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A tristeza que nos rói


O Demónio da Depressão cover

O Demónio da Depressão, by Andrew Solomon. Translated by Francisco Paiva Boléo and Constança Paiva Boléo. Lisbon: Quetzal Editores, 2016. Read an excerpt.

by Luis M. Faria

Obviamente, é a sua vida inteira que está em causa, mas num sentido restrito trata-se de uma depressão de longo prazo, com secções identificáveis: “Muitos lapsos ligeiros, depois duas graves recaídas, depois um momento de repouso, depois uma terceira recaída, depois mais alguns lapsos. Depois de tudo isto, faço o que tenho a fazer para evitar futuros distúrbios. Todas as manhãs e todas as noites olho para os comprimidos que tenho na palma da mão: brancos, cor de rosa, vermelhos, turquesa (…). Sinto por vezes que estou a engolir as minhas próprias cerimónias fúnebres duas vezes por dia, pois sem aqueles comprimidos, há muito tinha partido.”

À vivência pessoal junta-se a reportagem. Solomon entrevista outros deprimidos, nem todos americanos ou europeus, e alguns com um passado muitíssimo mais terrível do que o dele. Há ainda imensa informação sobre terapias e medicamentos, e também sobre aspetos históricos, políticos, sociais — um capítulo certeiro fala da relação entre pobreza e depressão. Tudo servido numa excelente prosa cujo fôlego alargado não a impede de ir direita ao assunto (“a psicanálise é boa a explicar as coisas, mas não é um modo eficaz de as mudar”), onde a alta cultura produz algumas imagens notáveis, e cujo único senão é dar ocasionalmente um certo ar de se deleitar consigo própria, estendendo por quatro parágrafos aquilo que podia dizer num só. Se os doentes são às vezes acusados de estarem apaixonados pelas suas doenças, ainda maior é a paixão pelas curas. No caso de um escritor como Solomon, a cura passa claramente pela escrita. Ele assume, aliás, esse fator, citando Graham Greene. Fá-lo a propósito dos mais de mil leitores que responderam a um artigo que publicou em 1998 na revista “New Yorker”.

(To read the rest of the review, please visit Expresso.)