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“Depois de um suicídio, não há muita utilidade em sentir culpa”


Um crime da solidão: Reflexões sobre o suicídio (Companhia das Letras, 2018)

Um crime da solidão: Reflexões sobre o suicídio (Companhia das Letras, 2018)

Por Marco Aurélio Canônico

A cada 40 segundos, alguém comete suicídio. A OMS estima que mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida anualmente. No Brasil, são cerca de 11 mil casos, segundo o Ministério da Saúde.

A prevalência do problema, no entanto, não acabou com o tabu em torno dele. “É um tema muito delicado. Se você fala demais sobre ele, é um problema; se você fala pouco, também”, diz o americano Andrew Solomon, professor de psicologia clínica na Universidade Columbia e autor do recém-lançado Um crime da solidão – Reflexões sobre o suicídio (Companhia das Letras).

Na obra, ele analisa o efeito de imitação provocado pelo noticiário sobre a morte de celebridades, além de casos particulares, como o de sua mãe, que decidiu junto com a família acabar com a própria vida por conta de um câncer incurável.

… O senhor afirma que a sociedade costuma culpar as próprias vítimas por terem depressão. Como se evita isso?

As pessoas culpam os deprimidos porque têm medo de suas próprias vidas interiores, da toxicidade potencial que há nelas. Acusam para se tranquilizar de que são diferentes e estão seguras. A realidade é que todos temos algum grau de vulnerabilidade à depressão e, em determinadas circunstâncias, ela pode se instalar. É muito prejudicial culpar alguém pelo que é um problema médico e social. Sim, o indivíduo tem um papel a desempenhar para melhorar, mas culpá-lo por estar naquele estado só piora a situação.

Every 40 seconds, someone commits suicide. The World Health Organization estimates that more than 800,000 people take their own lives annually. In Brazil, there are about 11,000 cases, according to the Ministry of Health.

The prevalence of the problem, however, does not end with the taboo surrounding it. “If you talk too much about it, it’s a problem; if you talk too little, it’s a problem, too,” says Andrew Solomon, a professor of clinical psychology at Columbia University and author of the recently released A Crime of Solitude: Reflections on Suicide (Companhia das Letras).

In the work, he analyzes the imitation effect caused by the news about celebrity deaths, as well as particular cases, such as his mother, who decided to end her own life due to incurable cancer.

… You say that society tends to blame victims of depression for being depressed. How do you avoid this?

People blame the depressed because they are afraid of their own inner lives, of the potential toxicity in them. They blame to reassure themselves that they are different and safe. The reality is that we all have some degree of vulnerability to depression and, under certain circumstances, it can settle. It is very damaging to blame someone for what is a medical and social problem. Yes, the individual has a role to play in improving their situation, but blaming them for being in that state only makes the situation worse.

(To read the complete interview, please subscribe to O Globo.)