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“Tratar a depressão tem custos elevados, não a tratar tem custos muito mais elevados”


por Catarina Pires

O Demónio da Depressão cover

O Demónio da Depressão, by Andrew Solomon. Translated by Francisco Paiva Boléo and Constança Paiva Boléo. Lisbon: Quetzal Editores, 2016.

O nova-iorquino Andrew Solomon, jornalista, conferencista e especialista em psicologia, anda há 15 anos a falar de depressão. A começar pela sua. O livro O Demónio da Depressão – Um atlas da doença foi editado pela primeira vez em 2001. Mais de 800 páginas que tanto são um ensaio rigoroso como um testemunho emocionado e emocionante e uma longa e exaustiva reportagem. A obra acaba de ser editada em Portugal e nós falámos com o autor em Lisboa.

_Diz que este livro o transformou num deprimido profissional. Investigar sobre depressão, falar com médicos, investigadores, assistentes sociais e doentes que partilharam consigo as suas histórias e sentimentos ajudou-o a exorcizar o seu demónio?

Sim. Não quer dizer que aconselhe toda a gente a exorcizar o seu demónio desta forma, mas penso que um dos fardos da depressão é a tentativa de a manter em segredo. A depressão é muito extenuante, manter segredo é muito extenuante e a energia que se gasta a manter uma depressão em segredo seria mais bem gasta a tratá-la. Mas, sim, descobri que falar publicamente sobre a doença permitiu-me transformar uma experiência que encarava como um desperdício de vida e de tempo em alguma coisa com significado, que podia servir para ajudar outras pessoas. E isso foi muito libertador para mim.

_Por que é tão difícil explicar a depressão a quem nunca foi afetado por ela? Depois destes anos todos, já chegou a uma definição?

Costumo dizer sempre que o contrário de depressão não é felicidade, é vitalidade. As pessoas pensam que estar deprimido é apenas estar muito triste. De facto, estar muito triste faz parte da doença, mas fechar-se, ser incapaz de funcionar, ficar paralisado, perder a energia básica para sair do quarto e fazer a barba e vestir uma T-shirt e falar com pessoas também. Há uma série de metáforas no livro em que muita gente se reconheceu e que considerou úteis para explicar à família ou aos amigos o que sentia. Mas, sabe, um dos grandes problemas é que usamos a mesma palavra para descrever o que sente uma criança quando o jogo de futebol que queria muito ver foi cancelado e o que sentia uma mulher que acaba de se atirar de um prédio abaixo. Essa confusão linguística não ajuda.

(To read the full interview, please visit Notícias Magazine.)