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Andrew Solomon lança ensaios sobre viagens a fim de combater a intolerância


Lugares distantes

Lugares distantes: Como viajar pode mudar o mundo, de Andrew Solomon. Companhia das Letras (560 págs.; R$ 79,90; R$ 39,90 o e-book)

de Sylvia Colombo

“Por que os judeus não foram embora quando as coisas ficaram ruins?”, perguntou Andrew Solomon, ainda um menino, ao pai enquanto viajavam em um Buick amarelo pelo Estado de Nova York. A resposta foi direta: “Porque não tinham para onde ir”.

O episódio contado por Solomon, 54, em Lugares Distantes: Como Viajar Pode Mudar o Mundo (Companhia das Letras), não é só um convite para acompanhar o autor de O Demônio do Meio-Dia e Longe da Árvore (ambos da mesma editora) por meio de ensaios sobre viagens a lugares como a Rússia, a Zâmbia, a Groenlândia, a China, a Antártida e tantos outros.

É também uma tentativa de ter uma resposta melhor do que a que recebeu do pai, caso alguma ameaça parecida ao Holocausto possa voltar a assombrar o mundo: ter um lugar para onde ir.

… No ensaio “Rio, Cidade da Esperança”, de 2011, Solomon coloca a lupa sobre a cidade que se preparava para receber a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016).

De cara, desconfia dos clichês locais. “Todos me diziam que a praia era democrática, mas obviamente a cor de sua pele e a marca de seu calção te definem e mostram o lugar de cada um ali.”

Em meio a várias vozes de esperança que ouviu sobre um suposto êxito das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora), observou que aquele tipo de unidade tinha falhas. No mínimo por mostrar-se infantilizadora da sociedade, e no máximo por quererem estender isso a uma política de Estado.

“Um projeto de intervenção militar pontual para resolver uma questão grave de segurança pública é compreensível, mas transformar isso em algo cotidiano não pode ser. E confesso que fiquei muito triste nesses últimos dias, lendo sobre a intervenção militar no Estado do Rio.”

No texto, Solomon critica as  tours nas favelas nas quais se inscreviam os turistas estrangeiros. “É algo abjeto você oferecer como espetáculo a observação do sofrimento humano. É o oposto do que penso que deve ser viajar, que é demonstrar empatia e buscar uma troca cultural. Aquilo me horrorizou”, diz. Mesmo assim, Solomon aplica para o Rio o que viu na URSS.

“Presenciei em favelas e mesmo na sociedade carioca momentos de otimismo com o que poderia vir após a possível pacificação e os eventos esportivos. E ainda que depois o resultado tenha sido a derrocada, como foi a Rússia com Putin, é preciso valorizar esses momentos de entusiasmo porque eles são inspiradores, quiçá para outros tempos.”

(To read the full interview, please visit Folha.)